Como dizia em artigo precedente, os espíritos podem revelar algumas caracterísitcas de outros mundos habitados. A mensagem a seguir foi ditada pelo espírito do eminente filósofo cristão Agostinho de Hipona. A superioridade do autor pode ser percebida na superioridade dos conceitos e da linguagem. Senão vejamos:
Mundos Regeneradores
Entre as estrelas que cintilam na abóbada azul do firmamento, quantos mundos
não haverá como o vosso, destinados pelo Senhor à expiação e à provação! Mas, também os
há mais miseráveis e melhores, como os há de transição, que se podem denominar de
regeneradores. Cada turbilhão planetário, a deslocar-se no espaço em torno de um centro
comum, arrasta consigo seus mundos primitivos, de exílio, de provas, de regeneração e de
felicidade. Já se vos há falado de mundos onde a alma recém-nascida é colocada, quando
ainda ignorante do bem e do mal, mas com a possibilidade de caminhar para Deus, senhora de
si mesma, na posse do livre-arbítrio. Já também se vos revelou de que amplas faculdades é
dotada a alma para praticar o bem. Mas, ah! há as que sucumbem, e Deus, que não as quer
aniquiladas, lhes permite irem para esses mundos onde, de encarnação em encarnação, elas se
depuram, regeneram e voltam dignas da glória que lhes fora destinada.
Os mundos regeneradores servem de transição entre os mundos de expiação e os
mundos felizes. A alma penitente encontra neles a calma e o repouso e acaba por depurar-se.
Sem dúvida, em tais mundos o homem ainda se acha sujeito às leis que regem a matéria; a
Humanidade experimenta as vossas sensações e desejos, mas liberta das paixões
desordenadas de que sois escravos, isenta do orgulho que impõe silêncio ao coração, da
inveja que a tortura, do ódio que a sufoca. Em todas as frontes, vê-se escrita a palavra amor; perfeita
equidade preside às relações sociais, todos reconhecem Deus e tentam caminhar para Ele,
cumprindo-lhe as leis.
Nesses mundos, todavia, ainda não existe a felicidade perfeita, mas a aurora da
felicidade. O homem lá é ainda de carne e, por isso, sujeito às vicissitudes de que libertos só
se acham os seres completamente desmaterializados. Ainda tem de suportar provas, porém,
sem as pungentes angústias da expiação. Comparados à Terra, esses mundos são bastante
ditosos e muitos dentre vós se alegrariam de habitá-los, pois que eles representam a calma
após a tempestade, a convalescença após a moléstia cruel. Contudo, menos absorvido pelas
coisas materiais, o homem divisa, melhor do que vós, o futuro; compreende a existência de
outros gozos prometidos pelo Senhor aos que deles se mostrem dignos, quando a morte lhes
houver de novo ceifado os corpos, a fim de lhes outorgar a verdadeira vida. Então, liberta, a
alma pairará acima de todos os horizontes. Não mais sentidos materiais e grosseiros; somente
os sentidos de um perispírito puro e celeste, a aspirar as emanações do próprio Deus, nos
aromas de amor e de caridade que do seu seio emanam.
Mas, ah! nesses mundos, ainda falível é o homem e o Espírito do mal não há
perdido completamente o seu império. Não avançar é recuar, e, se o homem não se houver
firmado bastante na senda do bem, pode recair nos mundos de expiação, onde, então, novas e
mais terríveis provas o aguardam.
Contemplai, pois, à noite, à hora do repouso e da prece, a abóbada azulada e, das
inúmeras esferas que brilham sobre as vossas cabeças, indagai de vós mesmos quais as que
conduzem a Deus e pedi-lhe que uni mundo regenerador vos abra seu seio, após a expiação
na Terra. - Santo Agostinho. (Paris, 1862.)
O Evangelho Segundo O Espiritismo - 112a. edição FEB - Federação Espírita Brasileira - tradução de Guillon Ribeiro.
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