O Espiritismo é um conhecimento sistematizado que abrange leis descobertas a partir de fenômenos observáveis e outras leis que se referem a temas pertencentes aos ambientes espiritual e psicológico. É por essa razão que definimos o Espiritismo como ciência, filosofia e religião.
Nos artigos anteriores sobre metodologia, abordei os fenômenos psíquicos e suas interpretações.
Agora quero falar sobre os aspectos filosóficos e religiosos do Espiritismo e a metodologia que foi aplicada por Allan Kardec para formular seus princípios no campo doutrinário.
Parece-me claro que a abordagem filosófica é conseqüência imediata do objeto de estudo do Espiritismo. O estudo do espírito sobrevivente à morte abarca diretamente as questões com que a Filosofia vem se debatendo ao longo dos séculos sem fornecer respostas satisfatórias.
De onde viemos, para onde vamos, o que estamos fazendo neste mundo; onde a sabedoria de viver?
Os espíritos naturalmente, fornecem instruções sobre esses temas.
Muitas dessas instruções são convergentes com a lógica, com os fatos, com os ensinamentos da maior parte das mensagens mediúnicas. Outras são ilógicas, desmentidas pelos fatos e contrárias às instruções da maioria dos espíritos.
Allan Kardec observou que os espíritos são seres humanos sem corpo; percebeu que suas inteligências, sua moralidade, seu comportamento, são variáveis. Na Terra existem homens bons, honestos, cultos outros há que revelam maldade, desonestidade, pouco conhecimento, pouca instrução, etc. No mundo espiritual, da mesma forma encontram-se indivíduos de todos os graus de moralidade, de inteligência e de cultura. Por esta razão não se deve acreditar em uma afirmação apenas por originar-se de mensagem mediúnica. A primeira condição para que um princípio integre a Doutrina Espírita é a de ser lógica, sábia na mais legítima acepção do termo, inspirada na mais pura moral cristã e se disser respeito ao campo de estudos científicos, que esteja de acordo com os dados positivos da ciência.
Todos os ensinos provindos dos espíritos que fugirem, ainda que de leve, dessas características, devem ser sumariamente rejeitados. Ainda mesmo que se rejeite a verdade, por um equívoco bem intencionado. É preferível rejeitar cem verdades a adotar um erro em termos de construção do Espiritismo.
Dito isso, selecionadas as mensagens lógicas, moralizadoras, de boa qualidade, observa-se, ainda assim, algumas contradições nos ensinos espirituais.
Há abordagens que não são fáceis de julgar, temas ainda complexos para o nosso grau de esclarecimento. Nesses casos, quem será o juiz definitivo do que é bom, correto e que deve ser incorporado à Doutrina Espírita? Quem ousa? Quem pretende ser o detentor de tantos talentos? Allan Kardec não ousou a este ponto. O mestre do Espiritismo, exemplificou prudência. Quando um assunto ainda não está bem explorado, bem analisado; quando necessite de informações não disponíveis, conhecimentos não consolidados, ainda em discussão, é preciso observar muito, juntar os elementos, observar e observar...
Allan Kardec codificou o Espiritismo com base nos ensinos que representam o pensamento coletivo dos espíritos superiores, que representam uma tendência da opinião dos homens que investigam esses assuntos e em muitos casos, também que estejam de acordo com o senso comum; os homens possuem a intuição da verdade.
Assim se expressou Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo (Introdução – 123ª Edição FEB): “ Uma só garantia séria existe para o ensino dos Espíritos: a concordância que haja entre as revelações que eles façam espontaneamente, servindo-se de grande número de médiuns estranhos uns aos outros e em vários lugares”. –
Mais adiante na mesma valiosíssima obra (valiosíssima não somente sob o aspecto moral como geralmente é vista, mas também em termos filosóficos e epistemológicos), observa-se: “...se nem sempre os indivíduos apreciam a verdade, esta é apreciada sempre pelo bom senso das massas, constituindo isso mais um critério... Estai certos, igualmente, de que quando uma verdade tem de ser revelada aos homens, é, por assim dizer, comunicada instanteneamente a todos os grupos sérios, que dispõem de médiuns também sérios, e não a tais ou quais, com exclusão dos outros”. Erasto (espírito) (Cap XXI).
Outro referencial para abordagens filosóficas e religiosas no Espiritismo é Deus e seus atributos.
Na monumental obra "A Gênese", Allan Kardec, após discorrer sobre os atributos da divindade, refere-se a este último critério de pesquisa, nos seguintes termos:
" Tal o eixo sobre que repousa o edifício universal. Esse o farol cujos raios se estendem por sobre o Universo inteiro, única luz capaz de guiar o homem na pesquisa da
verdade. Orientando-se por essa luz, ele nunca se transviará. Se, portanto, o homem há errado tantas vezes, é unicamente por não ter seguido o roteiro que lhe estava indicado.
Tal também o critério infalível de todas as doutrinas filosóficas e religiosas. Para apreciá-las, dispõe o homem de uma medida rigorosamente exata nos atributos de Deus e pode afirmar a si mesmo que toda teoria, todo princípio, todo dogma, toda crença, toda prática que estiver em contradição com um só que seja desses atributos, que tenda não tanto a anulá-lo, mas simplesmente a diminuí-lo, não pode estar com a verdade. Em filosofia, em psicologia, em moral, em religião, só há
de verdadeiro o que não se afaste, nem um til, das qualidades essenciais da Divindade. A religião perfeita será aquela de cujos artigos de fé nenhum esteja em oposição àquelas qualidades; aquela cujos dogmas todos suportem a prova dessa verificação sem nada sofrerem." (46ª edição FEB).
Vamos nos guiar por estes ensinos.
Os atributos da divindade é sem dúvida o caminho para a verdade filosófica.
ResponderExcluirTenho refletido muito sobre isso principalmente porque tenho observado no meio espirita pessoas defendendo caminhos sem Jesus e sem a crença na reencarnação o que me parece um tanto absurdo.
Parece- me que existem pessoas querendo desconstruir o espiritismo e pregando o afastamento deste da espinha dorsal que é a obra de Alan Kardec
Precisamos ficar atentos